Até o momento, há poucas pesquisas sobre sonhos lúcidos com origem na Ásia. Ao mesmo tempo, o único estudo realizado na China em 2008 chocou cientistas de outros países, mostrando que a frequência de sonhos lúcidos na China é de 92% – a maior taxa registrada no mundo.

Um novo estudo realizado no início deste ano por pesquisadores da Universidade Normal do Sul da China, em Guangzhou, descobriu que a taxa de sonhos lúcidos estava, na verdade, mais perto de 81,3%. Mas esse não foi o foco principal do estudo. Os autores chamam a atenção para o fato estranho de como os  sonhos comuns são comparados aos sonhos lúcidos e como isso afeta os fatores da consciência.

Os praticantes de sonhos podem pensar que a estranheza é um dos gatilhos dos sonhos lúcidos e, portanto, é mais comum nessa forma de sonho. Os cientistas chineses, entretanto, chegaram à conclusão de que o oposto é verdadeiro.

Sonhos geralmente são caracterizados por falta de metacognição, ou seja, a capacidade do sonhador de analisar seu pensamento, e logo, de autorrefletir no sonho. A consciência primitiva no sono normal desativa muitas funções cognitivas do cérebro, o que nos torna incapazes de lidar com anomalias cognitivas, como cenários de sonho bizarros, que até certo ponto se assemelham a um modelo de psicose. Os sonhadores lúcidos, por outro lado, retêm as funções de uma ordem superior de consciência.

Com base nisso, os cientistas coletaram descrições de sonhos de 176 participantes da pesquisa que tiveram uma alta frequência de sonhos lúcidos e compararam a concentração de estranheza em sonhos lúcidos e não-lúcidos em uma escala especial. Os indicadores de autorreflexão dos participantes também foram avaliados.

O estudo descobriu que os níveis de estranheza foram significativamente mais elevados em relatos de sonhos não-lúcidos, confirmando assim a hipótese dos cientistas sobre o efeito que a autorreflexividade reduzida no sono teria sobre a bizarrice dos sonhos. Em outras palavras, a estranheza dos sonhos muito provavelmente não é a causa dos sonhos lúcidos, mas resultado de mudanças no nível de metacognição provocadas por esse estado.

O estudo foi publicado em janeiro de 2020 na revista científica Frontiers in Psychology.

 

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