Embora a ciência e a religião discutam sobre o que são as experiências de quase morte (EQMs), até o próprio termo e a identificação daqueles que sobreviveram a ele ainda não foram totalmente definidos. As descrições de experiências de quase morte desde a década de 1980 foram baseadas em questionários de 16 itens avaliados na escala de Grayson. Na comunidade científica, é geralmente aceito que uma pessoa com pontuação igual ou superior a 7 seja avaliada como tendo passado por uma EQM. No entanto, muitos pesquisadores criticam essa abordagem.
Alguns cientistas têm pedido uma nova escala para avaliar experiências de quase morte, contendo itens adicionais. Outros acreditam que o questionário não fornece uma avaliação objetiva de um fenômeno tão complexo, por isso recorrem a entrevistas detalhadas de pessoas que vivenciaram a morte clínica. Em janeiro de 2020, cientistas belgas liderados por Vanessa Charland-Verville, da Universidade de Liege, publicaram um novo estudo que realizou análise textual em 158 descrições em primeira mão de experiências de quase morte.
Parte da análise consistiu em identificar palavras-chave que as pessoas usam para descrever suas EQMs. Como os achados mostraram, esses dados nem sempre coincidem com os dados do questionário da escala de Grayson. Por exemplo, 46% dos participantes usaram a palavra “nada” ao descrever sua experiência, tornando-a a sexta palavra-chave mais popular em uma seleção de 30. Palavras como “túnel” (35%), “amor” (30%), e “medo” (24%) também não aparecem na escala de Grayson.
As palavras menos positivas eram “preto”, “medo” e “morto”, embora anteriormente se acreditasse que avaliações negativas de EQMs eram raras. Por outro lado, os termos religiosos “Deus”, “anjos”, etc., não foram incluídos nesta lista. A palavra mais popular foi “luz” (66%). Assim, as análises de mineração de texto permitiram que os pesquisadores tirassem conclusões independentes, livres de conceitos pré-definidos. Além do método principal, essa abordagem é sem dúvida promissora.
O estudo foi publicado na revista Plos One em janeiro de 2020.



