Aqueles que não estão familiarizados com as causas da paralisia do sono (atrofia muscular à beira do sono) geralmente descrevem esse fenômeno como uma experiência “paranormal”. A paralisia do sono é experimentada por 8-30% da população e, embora o tratamento para essa condição ainda esteja para ser desenvolvido, é importante conhecer as bases fisiológicas desse estado para evitar entrar em pânico ou sucumbir à influência da tradição popular.
Por exemplo, em um artigo publicado em novembro de 2020 no The Journal of International Youth Neuroscience Association, o autor Alhassan Bangura conduziu uma análise histórico-cultural do fenômeno nos últimos 350 anos. A descoberta da paralisia do sono em um ambiente clínico é creditada ao médico holandês Isbrand van Diemerbroeck em 1664. Ele também foi a primeira pessoa a mencionar a presença de um “incubus”, atribuindo implicações “demoníacas” à paralisia do sono. Este termo se enraizou na cultura da Europa, imbuindo histórias de pacientes sobre o “estrangulador noturno” com horror sobrenatural.
Trezentos anos depois, a aura sobrenatural em torno da paralisia do sono foi mais uma vez revivida devido ao surto da Síndrome da Morte Súbita Noturna no Laos, no Sudeste Asiático. A comunidade Hmong atribuiu o fenômeno aos espíritos malignos dab-tsog (“bruxa da noite”) que estrangulavam suas vítimas à noite. Os egípcios acreditam que a paralisia do sono é um caso de ser atacado por Jinns, enquanto no Japão é o demônio Kanashibari que deixa quem está dormindo sem forças. No oeste da Índia, o estado de paralisia do sono corresponde a um transe no qual uma pessoa não consegue se mover porque um fantasma ou espírito está passando por seu corpo. Os afro-americanos, por outro lado, acreditam que estão sendo imobilizados por bruxas.
A paralisia do sono é um fenômeno recorrente ao longo da história e entre as culturas, cada uma atribuindo uma conotação religiosa diferente ou origem mitológica à ocorrência. Entretanto, ao contrário dessas crenças, há uma explicação científica para tais visões. A perda parcial do movimento muscular (principalmente pálpebras e boca) durante o estágio de transição do sono é acompanhada por alucinações, que são interpretadas por um estado de medo como a presença de um ser demoníaco ou outras entidades mitológicas. Aqueles que conhecem um pouco mais sobre esse fenômeno podem até sentir uma agradável paralisia do sono.